domingo, 7 de setembro de 2008

Compreendendo a Leitura Corporal II

A angústia do Curador
A angústia de quem estimula a cura

"Diante da vida, ao olhar céu e terras, vejo um caminho de muito transitar.
Nada há que justifique o passo que não seja possível aqui, que não possa ser vivido aqui.
Todo passo é próprio. O que se carece é de coragem para o andar.
Não há mistério. É preciso coragem.
Ainda que não se veja bem a trilha, um passo só é seguro depois do outro.
Não há risco em caminhar. O risco é de estagnar.
Nada perco se faço o caminho. A dor que sinto é de perder o que já não tem mais sentido.
Não há como manter o adoecido.
Só resta a opção da cura.
A doença em si não se mantém estagnada.
É da sua essência o movimento de retorno à evolução.
A estabilidade mantém a doença como está, boicota o primum movens da vida.
A estagnação não resiste ao passo da vida, assim como não é possível estagnar e ser feliz.
O movimento é a vida. O coração é a vida.
O que se move, é!
Não quero mais parecer satisfeito, não quero mais a falsa saciedade.
Não quero mais o vazio falsamente preenchido.
Quero o que é meu de direito, aquilo que me provê e sacia.
Não quero mais o que não quero e só no vazio me mantém.
Quero me preencher de verdade, da verdade de ser o que Eu Sou!"
Euder Airon


O estudo do processo do adoecer conduz à constatação de que o adoecimento se manifesta sob múltiplas formas e que, ainda que os sinais e sintomas expressos e percebidos revelem significância similar, a infinitude das variáveis evidencia a singularidade dos processos. Para que haja compreensão destas manifestações, o indivíduo e aquele que se propõe a ajudá-lo necessitam estabelecer contato com a experiência que está sendo vivida e com os universos individuais.
É necessário entender que o homem tem se voltado para o reconhecimento e valorização do sentir, das sensações e do seqüenciamento dos sinais que, até então, lhe pareciam insignificantes ou desprovidos de sentido. É necessário respeitar o processo de evolução da humanidade, entender que o homem evolui através de uma trajetória pessoal e coletiva e aceitar que, para que se mantenham válidas, as diversas propostas terapêuticas devem acompanhar as etapas de maturação do humano.
Para que uma ação seja verdadeiramente terapêutica é necessário que o indivíduo, progressivamente, desenvolva o entendimento, a compreensão e a aceitação dos próprios processos e que o terapeuta ative sua capacidade de contactar e desenvolver o seu interno e o processo pessoal de evolução, condição essencial para a percepção e entendimento da dor do outro. Estas capacidades permitem a conquista do sentir partilhado e integrado e proporcionam fluidez à ação terapêutica.
Não adianta, ao curador, abordar e explicar a origem do adoecimento com uma linguagem ou técnica que vá além do alcance do olhar do indivíduo. Para quem busca ajuda, a origem da dor está sempre naquele momento, na doença que o levou à busca. Para muitos, nada existe além daquilo que se pôde ver e perceber.
Para que o indivíduo possa validar e aceitar a transformação ou cura, a terapêutica deve ser orientada pela dor que foi vista, que se vê ou se projeta e tratar, principalmente, o que foi materializado naquele momento.
Não há como esperar que o movimento de expansão da consciência aconteça de forma imediata. Cada indivíduo tem o seu tempo essencial de evolução e necessita deste tempo para a elaboração, assimilação e aceitação sensorial e mental, para o reconhecimento dos padrões de comportamento e reformulação comportamental, para a identificação e correção das causas prováveis daquela manifestação doentia.
O tempo é individual e a percepção do tempo é pessoal!
Para aproveitar o adoecimento, o indivíduo precisa sentir e ver, no concreto, a evolução e a transformação de cada um dos sintomas e dos passos que, até ali, distorceram sua individualidade. É necessário entender que as escolhas espelham o que se percebe e pretende para si, reconhecer o curso do adoecimento, chegar ao porquê da instalação dos sintomas e se redefinir por escolhas e posturas que resgatem a saúde. Para que se instale a saúde, é fundamental que se viva o desejo de cura ... desejo que irá nascer do reconhecimento das escolhas inadequadas.
Todo processo de evolução e cura pertence ao indivíduo!
O que se pretende é que o indivíduo reconheça, através da força do seu interno, da compreensão das etapas de sua evolução, da ampliação de consciência proporcionada por suas dificuldades, que pode atingir o patamar de consciência que torna o adoecimento desnecessário. No processo da cura, a energia doente é transmutada e evoluída. Mas o desejo, o anseio, é de que a evolução seja ainda maior e que haja expansão da energia de vida. Quando a cura se instala em todos os níveis é, em totalidade, aproveitada pelo Universo.
Pode-se, então, ter a certeza de que o indivíduo reencontrou sua trajetória evolutiva, que assumiu a sua história, sua estrada e que segue por ela, com passos próprios, ainda que lentos ou eventualmente desviados. Pode-se ter a certeza de que, no ritmo e na velocidade do seu passo, ele irá adentrar, apropriar-se e evoluir seu processo de vida, relacionando cada momento à existência presente e ao momento imediatamente anterior, que depois será relacionado ao momento ainda anterior e, gradativamente, irá atingir o cerne, a compreensão global da sua história.
A ação que intenciona a ajuda deve estimular o indivíduo à conquista e posse da chave que o integra à sua trajetória, ao entendimento pleno e à incorporação do poder de cura e harmonização que lhe é próprio, único, como é única a essencialidade de cada Um.
O papel do verdadeiro Curador é ajudar o indivíduo na reconstituição de sua história para que, ao entender cada etapa, possa ele mesmo reencontrar sua trajetória. É papel do curador agir a partir do olhar do paciente, ter a honradez de atuar a partir daquilo que o outro vê, ouve, percebe, sente e reconhece como verdadeiro, aceitando a ampliação do conhecimento que o conhecer mútuo oferece. É preciso que o curador experiencie, estimule e compartilhe com quem o busca, a alegria da responsabilidade pela vida, pelo processo de cura, pelo contato com a luz interna e com a razão de ser.
Angustia-se muito o Curador que se faz como único responsável pela cura do outro, pela vida, evolução e saúde de quem o procura. A angústia pode resultar da obrigatoriedade de se caracterizar como competente e disponível, de medicar, orientar e reconduzir ao equilíbrio as pessoas que se desviaram, limitaram ou se impediram pela própria angústia.
Quanta angústia daquele que assume o compromisso de curar quando deveria estimular autocura!
Quanta dor!
Como cuidar da dor sem assumir a própria dor? Que pretensão é essa de negligenciar o próprio sofrimento e vestir a máscara de ser capaz de sanar o sofrimento do outro? Quantos terapeutas trazem dores e males semelhantes à dor de quem busca sua ajuda e negligenciam a oportunidade de se conhecer enquanto ajudam o outro?
Quanta insegurança!
Quantos terapeutas conseguem dar ao outro a resposta, indicar a trajetória da vida e não conseguem, na sua vida, trilhar a trajetória que ditam?
Quão difícil é vestir a máscara da segurança e ir à frente de batalha, usando do poder de interferir no processo curativo, assumindo a responsabilidade pela vida do outro, sentindo-se obrigado a dominar um conhecimento que tem a pretensão de salvar vidas e reduzir a angústia...
Que angústia por errar e não conseguir obter a cura!
Quanto sofrimento contemplam! E quase nunca se lembram de que o insucesso terapêutico pode não ter sido causado pelo erro e que esta pode ser a trajetória que o outro escolheu viver. Os erros existem. Erra-se, mas não é pelo erro ou pela incapacidade do Curador que uma doença persiste. Existem situações que são do momento e da necessidade do angustiado pela dor, situações em que o processo corporal é necessário, é veículo para que o indivíduo conquiste formas de liberação e drenagem de toda energia estagnada.
A maioria dos curadores abdica do direito e da condição de humano... Alguns, porque entram no processo de total doação; outros, porque transformam o conhecimento em poder e domínio e ainda outros, porque usam do conhecimento para sublimar as próprias dificuldades. Independente de como utilizam os conhecimentos que poderiam levar os indivíduos à cura, é muito grande o peso da responsabilidade, o compromisso e a angústia vividos por esses curadores.
É preciso que entendam que são livres!
Os curadores são orientadores de prováveis trajetórias para a vida. É verdade que, quando se dispõem à ajuda, a partilhar aquilo que, para o outro, é a fragilidade maior, precisam ter domínio sobre o conhecimento, precisam estar firmes, confiantes, com capacidade suficiente para definir e agir. É também verdade que a sua atuação pode salvar vidas... mas que não se esqueçam: são veículos!
As vidas salvas, salvam-se porque é merecimento, porque a experiência é necessária à evolução do outro e à evolução do terapeuta. É pretensão acreditar que um homem salve outro homem; um homem pode ajudar um outro homem a encontrar os caminhos que lhe salvam a vida.
O mérito é da vida!
O mérito é da Alma que, através da ajuda sincera, consegue se manter em movimento, exercendo a expressão da verdade que alimenta, equilibra e cura.
Este entendimento não reduz o compromisso com a vida, não diminui no curador a sua responsabilidade, não impede que se sofra pela dor do erro. Esta percepção aumenta o compromisso com a Nova Era, com o novo momento, com uma nova Medicina. Aumenta a necessidade do estudo, do entendimento pleno, da evolução dos conhecimentos, da busca incessante de espaços internos para que, da consciência adquirida, brotem as capacidades inatas, a sensibilidade e o uso adequado dos próprios potenciais.
É preciso que o Curador abandone a prepotência da ação que se baseia apenas no que é raciocínio, na manutenção de uma postura que tanto o distancia quanto diferencia de quem o procura.
Para que se reduza a angústia deste que se propõe a ajudar, é necessário que ele aceite e respeite o direito do outro de responsabilizar-se pelo próprio crescimento, que aceite que este caminho favorece a ajuda sem sofrimento, a vivência prazerosa do contato e da troca e o alívio do peso de se considerar o único responsável pelo cuidar da vida. É necessário exercer a compaixão, estendendo ao outro o respeito dedicado aos próprios processos.
Para reduzir a angústia daquele que busca a ajuda, é necessário lembrá-lo de que culpabilizar o externo ou o acaso por sua dor, torna a compreensão mais distante e a angústia mais dolorosa. É necessário pontuar que é ele o responsável pelo seu processo, por sua dor, por sua história, trajetória e momento de vida e lembrá-lo de que o assumir do compromisso consigo, propicia o encontro com a cura, diminui o sofrimento e permite o aproveitamento da doença como experiência de crescimento.
Enquanto o indivíduo se mantém na posição de vítima e culpa o meio, o externo ou o acaso pelos sofrimentos que o acometem, mais dolorosa se torna sua angústia, mais penoso se torna o trabalho daquele que, com a pretensão de propiciar a cura, acolhe o angustiado e vive o sofrimento e a obrigação de sanar, de aliviar, de cuidar da vida.
Uma angústia menor no Curador, associada a uma angústia menor naquele que busca a cura, favorece a troca, amplia os níveis de percepção de um e de outro e facilita a descoberta e o entendimento das trajetórias. O conselho, a indicação e a aceitação da terapêutica fluirão, então, como flui a vida, como fluem os objetivos de saúde almejados pela Alma. Fluirão como fluem, pelo Universo, o conhecimento e o saber.
Sentir assim a função de ajuda potencializa, em todos, o desenvolvimento de uma responsabilidade ainda maior: a de ativar o nascimento e a fé no Amor, a crença na Verdade do Homem, a compreensão de que o aproveitamento da doença traz a cura. Esta forma de sentir estimula ainda mais o desejo do conhecimento, valoriza o curador e quem busca a cura, ameniza a angústia de quem quer ajudar e de quem necessita ajuda.
A cura é conquista própria! Aos curadores cabe confiar que foram preparados para estimular harmonização e autocura. O sentimento de obrigatoriedade de curar impede que se perceba o caminho da verdadeira cura.
O Curador que busca estar de acordo com sua Alma, com seu Espírito, contacta mais facilmente a Alma, o Espírito, daquele que busca a cura... ambos se desenvolvem!

Chang Ling, por Nereida Fontes Vilela

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Compreendendo a Leitura Corporal I

A busca do equilíbrio entre o Ser e o Expressar
Com uma nova visão da vida, do corpo e do adoecer, a Leitura Corporal oferece a possibilidade de se alcançar o estado de saúde não pela supressão dos sintomas, mas pela tradução e entendimento das manifestações corporais, pelo caminhar constante dentro de um processo evolutivo. Imagine a vida como uma viagem por um mundo novo e desconhecido. Uma viagem que começa num ponto bem definido e deve chegar a um destino escolhido. Sinta seu corpo como o veículo que o conduz nesta jornada rumo a um novo ponto de partida, para uma outra etapa de evolução. Agora, sinta e pense na estrada. Pense nas surpresas, imprevistos, atalhos e curvas que podem constituir o trajeto... Pense nos bons e nos maus trechos do caminho, nas pequenas e nas grandes conquistas, nos prováveis acidentes de percurso... Pense nas experiências que são acumuladas e nos contatos, de toda espécie, feitos durante a viagem. Sinta e pense no seu veículo quando numa estrada livre e segura, quando numa estrada sinuosa e difícil, quando mudam as condições do meio ou do tempo... Pense nos sentimentos vividos quando você é convidado a prosseguir, quando é chamado ou obrigado a rever, a modificar e até a interromper sua trajetória....

Na visão da Leitura Corporal, o corpo - veículo da expressão - vive, registra, reage, reflete e revela os experimentos e os aprendizados do Ser, em sua grande viagem no mundo físico. Quando surgem desvios em nossa trajetória, impedindo a movimentação livre, a manifestação genuína ou o exercício da escolha, quando forçamos o ritmo ou abandonamos nossos reais objetivos - aqueles únicos, que trariam realização e prazer ao Interno - o corpo emite sinais, gera sensações ou produz sintomas que ativam a capacidade da autopercepção, permitindo a identificação do que incomoda e a revisão do percurso. Com suas manifestações, o corpo nos convida a rever o momento ou toda a história, a perceber onde e quando nos desviamos da rota principal, o por quê de darmos voltas ao invés de nos dirigirmos ao nosso ponto de destino. Fazendo a leitura do nosso corpo, podemos entender que os sinais, chamados de incômodos ou de doenças, não representam um momento de fraqueza ou punição, mas a oportunidade de identificação do que precisa ser reavaliado e trabalhado nos planos da emoção e do comportamento, para que possamos retomar o estado de coerência entre o que desejamos e buscamos, entre o que queremos e fazemos, entre o que sentimos e expressamos. Assim, as manifestações do corpo físico exercem sua função de sinalizadoras dos processos de auto conhecimento e evolução. Quando acolhidas, compreendidas e validadas, nos indicam o caminho que devemos percorrer para que haja o aprimoramento, um bom aproveitamento das experiências, da vida, das experiências desta vida, da encarnação. À luz da Leitura Corporal, o corpo físico manifesta adoecimentos quando o indivíduo já está em processo de busca da cura, de revisão do percurso, de localização e reorganização daquilo que não está adequado, daquilo que falta ou que não mais satisfaz às necessidades internas. A Leitura interpreta as formas do corpo e suas associações, suas manifestações e as doenças. De forma especial, observa a associação das sensações e dos sintomas com os processos emocionais, com as dificuldades e os conflitos vividos antes e durante o adoecer. Por entender que o sofrimento físico acontece para liberar impulsos e fluxos de energia estagnados ou viciados, vê a saúde como o estado de harmonia e coerência entre o Ser e o Estar, entre o sentir e o expressar, e a doença como um instrumento de purificação e de reconquista da saúde. Aceita as manifestações do corpo físico como mecanismos de busca de cura do Interno, da Alma, do Ser em seu aprendizado e evolução. Não partilha da visão, hoje generalizada, de que a dor, a doença e o sofrimento nascem, principalmente, da ação de mecanismos externos, nos transformando em vítimas passivas e sem recursos próprios e eficientes no desenvolvimento dos processos de cura.


Fazendo a leitura do nosso corpo, podemos entender que os sinais, chamados de incômodos ou de doenças, não representam um momento de fraqueza ou punição, mas a oportunidade de identificação do que precisa ser reavaliado e trabalhado nos planos da emoção e do comportamento.


Venho desenvolvendo a Leitura Corporal, há aproximadamente 15 anos, com o propósito de ampliar a prática fisioterápica. Foi no desejo de entender o porquê das recidivas, o porquê de sintomas e lesões semelhantes não melhorarem da mesma forma sob um mesmo tratamento, que surgiu o movimento de disponibilizar os sentidos para a percepção dos indivíduos, para a identificação das emoções e sentimentos que acompanhavam a manifestação, para tecer as informações e estabelecer correlações. A experienciação mostrou que na forma individualizada de adoecer haviam semelhanças, que correlações existiam, e que eram claras: para diagnósticos iguais, emoções e sentimentos similares, sintomatologias diferentes, reações e respostas distintas. Foi possível, e ainda é possível, fazer subgrupos, relacionando sintomas, biotipos e formas de viver e sentir um incômodo ou sofrimento, relacionando sintomas e sentimentos básicos, como o medo, a paixão, a insegurança, etc.

O corpo físico manifesta adoecimentos quando o indivíduo já está em processo de busca da cura, de revisão do percurso, de localização e reorganização daquilo que não está adequado, daquilo que falta ou que não mais satisfaz às necessidades internas.

Destes ensaios... a certeza de que a origem dos sintomas, das doenças, está nos sentimentos, nos comportamentos, na história, nos momentos vividos. A certeza de que as doenças tomam formas individualizadas, que a cura ou a forma de curar é de cada um. Mais alguns passos, e a percepção da presença da energia, da força da vida, dos fluídos que configuram, plasmam e modelam o corpo, fazendo evidentes outros corpos, trazendo à tona a vida que perpassa e sustenta a vida biológica. Outros tantos passos, e o contato com o mundo interno, com as vibrações do sentir, com a expressão da corporeidade, com o intuir, com o pensar, com o experimentar. Junto, o encontro com o Mestre... O encontro com o Conhecimento. Daí a busca, cada vez mais aprofundada, da significância dos sintomas e do entendimento das emoções na vida das pessoas, dos pacientes. Todo o conteúdo da Leitura Corporal, vivenciado pelo raciocínio lógico, pelo sentimento e pela intuição, é experimentado, traduzido e transmitido nas práticas terapêuticas e pedagógicas do Núcleo de Terapia Corporal, em Belo Horizonte. O Núcleo é formado por um grupo transdisciplinar de profissionais que atende a um número crescente de pessoas com quadros clínicos já instalados ou que procuram tratamento preventivo através do auto conhecimento. Neste trabalho, a equipe do NTC elabora - torna assimilável - as associações entre aquilo que o corpo apresenta como incômodo, manifestação ou seqüela e os hábitos, comportamentos, emoções, sentimentos e experiências de vida que antecederam ou conduziram àqueles momentos de desconforto e sofrimento. A prática diária reafirma que o relacionar incômodos e estados internos, o aceitar viver as emoções e os sentimentos, o tornar-se consciente, assumindo e evoluindo o próprio processo, suscita o poder da auto-cura. Os procedimentos terapêuticos do NTC - boas conversas, massagens, homeopatia, fitoterapia, práticas e exercícios, cursos, incentivo à experimentação contínua do amor por si mesmo e do prazer - objetivam trazer à superfície a consciência dos conflitos e das emoções bloqueadas, estimulam o processamento e a movimentação da energia estagnada, que, ao ser tocada, vibra a memória da saúde, assinalando as dificuldades que levaram ao adoecer, revelando o caminho da cura. O corpo caracteriza os níveis de comprometimento da saúde de forma precisa. O acometimento de estruturas mais superficiais ou mais profundas gradua a distância entre o que é sentido e o que expresso, revelando o grau de inadequação do caminho que escolhemos. Se acolhemos a idéia de que somos nós que geramos nossos distúrbios e doenças ou que somos nós que permitimos a evolução dos processos que levam ao adoecimento, somos levados a concluir que só o processo interno de compreensão pode nos proporcionar a cura, que a saúde se instala na integração entre o Ser e o Expressar. Não existe aqui a apologia ao sofrimento, à dor ou à manutenção de doenças como forma de crescimento. O que a Leitura Corporal preconiza é que deveríamos nos aliar à doença antes de combatê-la. Esta aliança permite a compreensão de todos os aspectos que envolvem a manifestação, facilitando a descoberta dos desvios que nos levaram àquela forma ou momento de dor.

O corpo não foi feito para o sofrimento. Foi concebido para nos dar prazer, nos conduzir numa trajetória de aprendizado através da experiência, ser nosso veículo de comunicação e de realização. Existe para nos sinalizar sempre que se faça necessária a retomada do caminho, o reencontro consigo e com o universo do sentir, o reaprendizado da vibração do prazer na experiência da vida...


Elaboração: Nereida Fontes Vilela e equipe
Fonte: SEJA! Leitura Corporal em Revista - Edição nº 1 – Fevereiro / 2000

Leitura Corporal | De que falamos

A Leitura Corporal descreve as funções emocionais dos segmentos e das estruturas corporais e estuda as associações que existem entre as manifestações do Corpo Físico e os processos psíquicos e sensoriais do Ser Humano. Sustentada na afirmação de que o corpo vive, regista, reage e revela a história individual, a Leitura Corporal relaciona as formas e a funcionalidade do corpo, os traços fisionómicos, as posturas, as sensações e os sintomas físicos aos conteúdos mentais e às particularidades comportamentais e estabelece um paralelo entre a linguagem do corpo, o estado de saúde, as disfunções orgânicas e o auto-conhecimento. Por entender que a saúde decorre da livre movimentação dos impulsos internos e da expressão original e espontânea das emoções, sentimentos e vontades vividas, concebe as manifestações corporais como traduções do desejo e da vontade e como orientadoras do como agir e actuar. Vê, nos desconfortos e adoecimentos, a sinalização de que existe insatisfação e do como satisfazer-se. A Leitura Corporal avalia os desequilíbrios energéticos e os adoecimentos como reflexos da contenção, da limitação dada à experimentação do prazer e das distâncias criadas entre o Ser e o Estar e entre o Sentir e o Expressar, e identifica a doença como um mecanismo que ajuda na localização dos conflitos emocionais, facilita o entendimento dos processos pessoais, estimula a auto-aceitação e a reorganização do pensamento e da actuação.Tem o propósito de mostrar que a aprendizagem e o exercício do conhecimento e do convívio com o corpo, a leitura e a compreensão de suas manifestações, são instrumentos para a prevenção e evolução da saúde nos planos físico e subtis. A Leitura Corporal confia que cada sinal ou conformação física traz o seu significado e permite a percepção do saudável e do adoecido, apontando o caminho para o re-equilíbrio e para a clareza, para a assimilação e aproveitamento de cada experiência vivida. Entende que o relacionar incómodos e estados internos, o aceitar viver as emoções e os sentimentos, o tornar-se consciente, assumindo e evoluindo o próprio processo, suscita o poder da auto-cura.