sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Compreendendo a Leitura Corporal I

A busca do equilíbrio entre o Ser e o Expressar
Com uma nova visão da vida, do corpo e do adoecer, a Leitura Corporal oferece a possibilidade de se alcançar o estado de saúde não pela supressão dos sintomas, mas pela tradução e entendimento das manifestações corporais, pelo caminhar constante dentro de um processo evolutivo. Imagine a vida como uma viagem por um mundo novo e desconhecido. Uma viagem que começa num ponto bem definido e deve chegar a um destino escolhido. Sinta seu corpo como o veículo que o conduz nesta jornada rumo a um novo ponto de partida, para uma outra etapa de evolução. Agora, sinta e pense na estrada. Pense nas surpresas, imprevistos, atalhos e curvas que podem constituir o trajeto... Pense nos bons e nos maus trechos do caminho, nas pequenas e nas grandes conquistas, nos prováveis acidentes de percurso... Pense nas experiências que são acumuladas e nos contatos, de toda espécie, feitos durante a viagem. Sinta e pense no seu veículo quando numa estrada livre e segura, quando numa estrada sinuosa e difícil, quando mudam as condições do meio ou do tempo... Pense nos sentimentos vividos quando você é convidado a prosseguir, quando é chamado ou obrigado a rever, a modificar e até a interromper sua trajetória....

Na visão da Leitura Corporal, o corpo - veículo da expressão - vive, registra, reage, reflete e revela os experimentos e os aprendizados do Ser, em sua grande viagem no mundo físico. Quando surgem desvios em nossa trajetória, impedindo a movimentação livre, a manifestação genuína ou o exercício da escolha, quando forçamos o ritmo ou abandonamos nossos reais objetivos - aqueles únicos, que trariam realização e prazer ao Interno - o corpo emite sinais, gera sensações ou produz sintomas que ativam a capacidade da autopercepção, permitindo a identificação do que incomoda e a revisão do percurso. Com suas manifestações, o corpo nos convida a rever o momento ou toda a história, a perceber onde e quando nos desviamos da rota principal, o por quê de darmos voltas ao invés de nos dirigirmos ao nosso ponto de destino. Fazendo a leitura do nosso corpo, podemos entender que os sinais, chamados de incômodos ou de doenças, não representam um momento de fraqueza ou punição, mas a oportunidade de identificação do que precisa ser reavaliado e trabalhado nos planos da emoção e do comportamento, para que possamos retomar o estado de coerência entre o que desejamos e buscamos, entre o que queremos e fazemos, entre o que sentimos e expressamos. Assim, as manifestações do corpo físico exercem sua função de sinalizadoras dos processos de auto conhecimento e evolução. Quando acolhidas, compreendidas e validadas, nos indicam o caminho que devemos percorrer para que haja o aprimoramento, um bom aproveitamento das experiências, da vida, das experiências desta vida, da encarnação. À luz da Leitura Corporal, o corpo físico manifesta adoecimentos quando o indivíduo já está em processo de busca da cura, de revisão do percurso, de localização e reorganização daquilo que não está adequado, daquilo que falta ou que não mais satisfaz às necessidades internas. A Leitura interpreta as formas do corpo e suas associações, suas manifestações e as doenças. De forma especial, observa a associação das sensações e dos sintomas com os processos emocionais, com as dificuldades e os conflitos vividos antes e durante o adoecer. Por entender que o sofrimento físico acontece para liberar impulsos e fluxos de energia estagnados ou viciados, vê a saúde como o estado de harmonia e coerência entre o Ser e o Estar, entre o sentir e o expressar, e a doença como um instrumento de purificação e de reconquista da saúde. Aceita as manifestações do corpo físico como mecanismos de busca de cura do Interno, da Alma, do Ser em seu aprendizado e evolução. Não partilha da visão, hoje generalizada, de que a dor, a doença e o sofrimento nascem, principalmente, da ação de mecanismos externos, nos transformando em vítimas passivas e sem recursos próprios e eficientes no desenvolvimento dos processos de cura.


Fazendo a leitura do nosso corpo, podemos entender que os sinais, chamados de incômodos ou de doenças, não representam um momento de fraqueza ou punição, mas a oportunidade de identificação do que precisa ser reavaliado e trabalhado nos planos da emoção e do comportamento.


Venho desenvolvendo a Leitura Corporal, há aproximadamente 15 anos, com o propósito de ampliar a prática fisioterápica. Foi no desejo de entender o porquê das recidivas, o porquê de sintomas e lesões semelhantes não melhorarem da mesma forma sob um mesmo tratamento, que surgiu o movimento de disponibilizar os sentidos para a percepção dos indivíduos, para a identificação das emoções e sentimentos que acompanhavam a manifestação, para tecer as informações e estabelecer correlações. A experienciação mostrou que na forma individualizada de adoecer haviam semelhanças, que correlações existiam, e que eram claras: para diagnósticos iguais, emoções e sentimentos similares, sintomatologias diferentes, reações e respostas distintas. Foi possível, e ainda é possível, fazer subgrupos, relacionando sintomas, biotipos e formas de viver e sentir um incômodo ou sofrimento, relacionando sintomas e sentimentos básicos, como o medo, a paixão, a insegurança, etc.

O corpo físico manifesta adoecimentos quando o indivíduo já está em processo de busca da cura, de revisão do percurso, de localização e reorganização daquilo que não está adequado, daquilo que falta ou que não mais satisfaz às necessidades internas.

Destes ensaios... a certeza de que a origem dos sintomas, das doenças, está nos sentimentos, nos comportamentos, na história, nos momentos vividos. A certeza de que as doenças tomam formas individualizadas, que a cura ou a forma de curar é de cada um. Mais alguns passos, e a percepção da presença da energia, da força da vida, dos fluídos que configuram, plasmam e modelam o corpo, fazendo evidentes outros corpos, trazendo à tona a vida que perpassa e sustenta a vida biológica. Outros tantos passos, e o contato com o mundo interno, com as vibrações do sentir, com a expressão da corporeidade, com o intuir, com o pensar, com o experimentar. Junto, o encontro com o Mestre... O encontro com o Conhecimento. Daí a busca, cada vez mais aprofundada, da significância dos sintomas e do entendimento das emoções na vida das pessoas, dos pacientes. Todo o conteúdo da Leitura Corporal, vivenciado pelo raciocínio lógico, pelo sentimento e pela intuição, é experimentado, traduzido e transmitido nas práticas terapêuticas e pedagógicas do Núcleo de Terapia Corporal, em Belo Horizonte. O Núcleo é formado por um grupo transdisciplinar de profissionais que atende a um número crescente de pessoas com quadros clínicos já instalados ou que procuram tratamento preventivo através do auto conhecimento. Neste trabalho, a equipe do NTC elabora - torna assimilável - as associações entre aquilo que o corpo apresenta como incômodo, manifestação ou seqüela e os hábitos, comportamentos, emoções, sentimentos e experiências de vida que antecederam ou conduziram àqueles momentos de desconforto e sofrimento. A prática diária reafirma que o relacionar incômodos e estados internos, o aceitar viver as emoções e os sentimentos, o tornar-se consciente, assumindo e evoluindo o próprio processo, suscita o poder da auto-cura. Os procedimentos terapêuticos do NTC - boas conversas, massagens, homeopatia, fitoterapia, práticas e exercícios, cursos, incentivo à experimentação contínua do amor por si mesmo e do prazer - objetivam trazer à superfície a consciência dos conflitos e das emoções bloqueadas, estimulam o processamento e a movimentação da energia estagnada, que, ao ser tocada, vibra a memória da saúde, assinalando as dificuldades que levaram ao adoecer, revelando o caminho da cura. O corpo caracteriza os níveis de comprometimento da saúde de forma precisa. O acometimento de estruturas mais superficiais ou mais profundas gradua a distância entre o que é sentido e o que expresso, revelando o grau de inadequação do caminho que escolhemos. Se acolhemos a idéia de que somos nós que geramos nossos distúrbios e doenças ou que somos nós que permitimos a evolução dos processos que levam ao adoecimento, somos levados a concluir que só o processo interno de compreensão pode nos proporcionar a cura, que a saúde se instala na integração entre o Ser e o Expressar. Não existe aqui a apologia ao sofrimento, à dor ou à manutenção de doenças como forma de crescimento. O que a Leitura Corporal preconiza é que deveríamos nos aliar à doença antes de combatê-la. Esta aliança permite a compreensão de todos os aspectos que envolvem a manifestação, facilitando a descoberta dos desvios que nos levaram àquela forma ou momento de dor.

O corpo não foi feito para o sofrimento. Foi concebido para nos dar prazer, nos conduzir numa trajetória de aprendizado através da experiência, ser nosso veículo de comunicação e de realização. Existe para nos sinalizar sempre que se faça necessária a retomada do caminho, o reencontro consigo e com o universo do sentir, o reaprendizado da vibração do prazer na experiência da vida...


Elaboração: Nereida Fontes Vilela e equipe
Fonte: SEJA! Leitura Corporal em Revista - Edição nº 1 – Fevereiro / 2000

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